Conhecida como Magal, Margarida da Silva é assentada na cidade de Atalaia, na Zona da Mata de Alagoas, no Assentamento Milton Santos e tem grande parte de sua vida dedicada à luta pela Reforma Agrária e pela produção de alimentos saudáveis.

Filha de camponeses, Magal nasceu na cidade de São Miguel dos Campos, mas desde o ano de 1998, em um 8 de março – Dia Internacional de Luta das Mulheres – sua vida mudava completamente. Ali foi sua primeira ocupação de terra. “Eu vim com a minha tia, nas primeiras ocupações de terra que teve na região de União dos Palmares. Era ainda próximo ao massacre de Eldorado dos Carajás, então a população em si seguia com medo da violência contra os trabalhadores rurais que lutavam por um pedaço de terra para trabalhar”, explicou.

Ainda muito jovem, Margarida decidiu que a luta seria a marcha de sua vida e desde a ocupação em 98, ingressou nas fileiras da organização dos trabalhadores e trabalhadoras do campo a partir do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST.

Hoje Magal integra a Direção Nacional do MST em Alagoas e relembra com emoção as histórias e a trajetória que viveu desde então. “Após três meses da primeira ocupação, no dia 17 de junho, ocupávamos a sede da antiga Usina Ouricuri, com cerca de 1400 famílias de trabalhadores Sem Terra”.

É essa ocupação que muda o cenário da luta pela terra em Atalaia, onde ficava localizada a Usina Ouricuri e que hoje é o assentamento onde vive Magal com seus filhos e companheiro.

“Desde então venho contribuindo na organização do MST em Alagoas, passando por diversas tarefas, acompanhando as ocupações de terra e militando pela Reforma Agrária Popular e por justiça social”, relata com orgulho.

Após a ocupação da Ouricuri, hoje o MST coordena nove assentamentos na região, fruto da luta pela terra na época e que hoje vivem diversas famílias.

Com emoção Margarida conta da mudança de vida que a luta pela terra proporcionou em sua trajetória, “mudou a minha condição de vida. A gente não tinha terra para produzir, sempre trabalhamos na terra dos outros. E aqui foi a possibilidade que nós tivemos de ter a própria terra para viver e produzir, sem ter que depender de nenhum patrão”.

Filha de mãe solteira, ela destaca que foi a conquista da terra que deu vida digna para a família. “Poder viver sem depender dos outros, ter nossa casa própria... Antes vivíamos nas fazendas onde a família trabalhava, mas sempre na dependência dos patrões e aqui foi a forma da gente poder ter dignidade, sem ser escravos de ninguém”.

A produção de alimentos saudáveis

Ao chegar no assentamento é fácil avistar as roças com uma diversidade de produção, mas nem sempre o cenário foi assim. Antes da área pertencer aos trabalhadores e trabalhadoras rurais, o território era tomado pela monocultura da cana-de-açúcar, pelo intensivo uso de agrotóxicos e pelo trabalho em condições precárias dos trabalhadores e trabalhadoras da Usina.

“Hoje aqui temos um pouquinho de tudo no assentamento: macaxeira, animais de pequeno porte, frutíferas, feijão, milho...”, comentou Margarida.

Parte dessa produção tem sido destinada às ações de solidariedade dos trabalhadores e trabalhadoras do campo com as periferias da cidade nesse período de Pandemia. A estimativa é que somente o MST tenha doado mais de 200 toneladas de alimentos em Alagoas desde o início da Pandemia da Covid-19 em 2020.

“A solidariedade é um princípio da nossa organização coletiva e, nesse período, nossa solidariedade com o conjunto dos trabalhadores da cidade é também de reafirmar a importância da agricultura familiar e camponesa para o combate à fome”. Lembrando da volta do Brasil ao mapa da fome, Margarida explicou do papel que as ações de solidariedade estão desempenhando nesse período.

“É de fato uma ação que tem garantido a sobrevivência de muitas famílias que passam por necessidade nesse momento. Queremos não só levar a comida da roça, sem veneno e direto das mãos de quem produz, mas queremos também partilhar a esperança na construção de uma nova sociedade, com condições de vida digna para quem vive no campo e também para quem vive na cidade”.

Luta por direitos

Após a conquista da terra, muitas lutas estariam ainda por vir. Luta por saúde, educação e uma série de direitos aos camponeses e camponesas assentados da Reforma Agrária. Margarida sinaliza que desde as condições para produção de alimentos na roça, até o acesso às demais políticas sociais têm sido desafios permanentes.

“Ao pensar na produção de alimentos, nós estamos hoje sem nenhuma política de assistência técnica para avançarmos ainda mais na produção e comercialização dos frutos da nossa luta”, explicou.

Segundo Margarida, a comunidade que não possui nenhuma política específica no que diz respeito à assistência social, só tem acesso ao CRAS na cidade. “Só o que temos de forma mais permanente são os agentes de saúde que atuam no posto da comunidade”.

Ainda assim, Magal relata o período, durante a Pandemia, que o posto de saúde ficou sem médico e enfermeira, por conta de mudanças na gestão municipal. “Estamos ainda sem enfermeira, mesmo no meio da Pandemia”.

“A nossa luta não para. Conquistar a terra é um passo importante, mas temos ainda muitas conquistas necessárias para garantia de direitos dos camponeses e camponesas”.