
CRESS Entrevista | A importância de se manter e fortalecer a identidade dos povos quilombolas: confira a entrevista com Greice Keli dos Santos
27/07/2023 às 10h00
Por quilombolas, de acordo com o INCRA, consideram-se os grupos de pessoas que residem em terras ocupadas por remanescentes das comunidades de quilombos, sendo estas utilizadas para garantia de reprodução física, social, econômica e cultural. Dentro desse contexto, um dos maiores desafios é manter viva a essência do povo quilombola, reafirmando seu conjunto de saberes e experiências.
Nesse sentido, a segunda entrevista organizada pelo Comitê de Combate ao Racismo do CRESS Alagoas sobre dia da Mulher Negra Latino-Americana Caribenha, destaca os desafios e oportunidades da Assistente Social quilombola, Greice Keli dos Santos, que atua na Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos na cidade de Penedo/AL. A profissional, que também é professora de Ciências, ressalta a importância de se manter e fortalecer a identidade dos povos remanescentes.
“Como assistente social, atuando no SUAS junto ao povo quilombola, busco embasamento no Código de Ética Profissional, viabilizando o acesso e garantia de direitos dos povos quilombolas”, afirma Greice Keli.
Confira a entrevista na íntegra:
Como você vivencia e lida com a intersecção entre sua identidade quilombola e sua profissão como assistente social?
Eu me descobri quilombola antes de atuar como assistente social. Na verdade, foi em 2015 quando ingressei no curso de Ciências Biológicas na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), através das cotas. No início desse curso, busquei as origens da minha ancestralidade e pude me descobrir como remanescente de quilombo. Havia um projeto de extensão que tinha por finalidade tornar a escola da minha Comunidade “Tabuleiro dos Negros”, em Penedo/AL, como quilombola. O objetivo era ministrar para as crianças desde a educação infantil, uma educação voltada à origem da comunidade, com suas tradições culturais. Dessa forma, elas teriam ideia de pertencimento e identidade quilombola, bem como chegariam à Universidade conscientes de todas as lutas e trajetórias enfrentadas por nossos antepassados para termos acesso as políticas públicas e sociais.
Em 2020, quando ingressei na Especialização em Docência na Educação Profissional, tive clareza de quanto minha profissão é importante e necessária para que minha comunidade tenha acesso às políticas educacionais e sociais direcionadas as/aos remanescentes. Meu TCC foi um projeto de ação voltado aos Cursos FIC (Formação Inicial e Continuada) oferecidos pelo IFAL. Através dele muitos jovens deixaram de procurar trabalho em outros estados, percebendo o quanto somos ricos em cultura, diversidade e potencial agrícola. Embora, ainda há a falta de conhecimento necessário para levar a diante os ensinamentos dos nossos antepassados, uma vez que é através da agricultura familiar que os/as quilombolas tiram seu sustendo há muitos e muitos anos.
Você considera que a sua trajetória e vivências pessoais como quilombola contribuem para a compreensão das demandas e necessidades específicas da população negra?
Sim, no sentido de evidenciar e articular a organização social dos quilombolas e as políticas públicas, contribuindo com as discussões travadas no campo das políticas públicas e com a ressignificação que compõe as necessidades dos quilombolas.
Através da compreensão histórica, das praticas e vivências posso contribuir diretamente na formação cidadã da minha comunidade, podendo com isso, viabilizar e fomentar debates que buscam enaltecer o pertencimento da identidade dos indivíduos como quilombolas.
Quais estratégias e abordagens você utiliza no enfrentamento ao racismo e às manifestações de discriminação racial vivenciadas no cotidiano profissional?
Como assistente social originalmente quilombola, atuo diretamente contra as desigualdades e discriminação racial, principalmente quando se encontram e se comprovam instrumentos causais que operam no âmbito individual e social que possam ser reduzidos à ideia de raça; bem como para que os grupos considerados superiores não obtenham privilégios em relação aos outros grupos, considerados inferiores.
Como assistente social, atuando no SUAS junto ao povo quilombola, busco embasamento no Código de Ética Profissional, viabilizando o acesso e garantia de direitos dos povos quilombolas.